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terça-feira, 25 de dezembro de 2012


Nasci homem. Adestraram-me desde a infância a assumir as rédeas do mundo. Entanto, esqueceram-se de avisar: quase todos os caminhos me trariam alguma figura feminina marcante, dessas que são capazes de destroçar muralhas com o simples gesto de mexer no cabelo. E elas vieram senhoras de si, arrebatadoras, furiosas, cobrando o que, na verdade, já pertence a elas desde o ventre. Fortes por natureza, sabiam como utilizar a mais infalível das artes humanas: a delicadeza. Assim, entreguei-me sem reagir. Tornei-me admirador de suas lutas. Invejei seu pioneirismo. Tentei acompanhar, em vão, sua maturidade. Se existir reencarnação e se me for concedido algum poder de escolha, gostaria de voltar a este mundo na pele de uma mulher. Sangraria todo mês, mas sem perder o rebolado. Mataria por minha cria. Desenvolveria sextos, sétimos, enfim, todos os sentidos possíveis. Amaria ferozmente quem me tratasse com decência e cortesia. Não seria fácil viver tudo isso. Ser mulher não é nada fácil. Mas acho que encararia esse desafio. Ser homem, meu amigo, não tem um pingo de graça.

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