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sexta-feira, 22 de julho de 2016


          Há tempos, as lutas pelas liberdades individuais e coletivas trazem ao mundo, pelos métodos mais contundentes, a necessidade premente de renovação. Como em um encerramento de ciclo, sobrevém a urgência de desconstruir as estruturas até então hegemônicas e hastear bandeiras novas, recriar símbolos, desmistificar padrões, instituir mudanças. Esse processo, que obviamente não e tão natural quanto se pode imaginar, dá-se nas mais variadas instâncias - política, educação, cultura, comportamento. A arte, por exemplo, deve a nomes como Picasso, Braque, Magritte e Duchamp a ruptura dos padrões estéticos vigentes e o surgimento de técnicas e concepções que orientariam por onde os artistas das gerações seguintes poderiam trilhar. O desejo de mudança segue um rumo parecido ao observar-se o que se passa nas veredas politico-sociais, principalmente quando as pessoas dão-se conta da importância de sua participação no processo de construção do novo. Seja na Passeata dos Cem Mil, no sinistro ano de 1968, seja na Primavera Brasileira de 2013, os movimentos populares organizados mostraram aos empoderados que o conceito de Democracia, ainda que o queiram desgastado e utópico, precisa ser respeitado e, vez em quando, recuperado à custa de mobilizações e enfrentamentos.   
         As sociedades, portanto, reerguem-se sobre os escombros daquilo que, por razões as mais variadas, passa a ser considerado obsoleto e passível de desconstrução. Embora muitos achem um absurdo, é justo que as novas gerações inaugurem formas de pensar que entrem em conflito com os que vieram antes. Isso não significa, por certo, simplesmente fechar os olhos para o que já foi - creio que, nesse caso, convém estabelecer diferença entre "já foi" e "já era". Trata-se também de uma reciclagem, de um olhar diferente sobre o que tradicionalmente se fossilizou. É esse modo jovial e ousado de perceber o passado que consegue, no presente, (re)criar caminhos que, a seu tempo, serão questionados, reinventados, desconstruídos. 
             Como toda mudança gera estranhamento, os tradicionalistas de plantão, no pleno exercício de seu papel reacionário, ficam horrorizados, torcem o nariz, fazem cara feia. Talvez daí venha a gíria "careta", popularizada há muitos carnavais para referir-se a essa inaceitação do que pareça diferente e, por isso mesmo, ameaçador. 
             Ocorre que, assustadoramente, o mundo está se tornando um poço de caretices. 
            Os baluartes do conservadorismo defenderem suas crias é mais do que natural. Até cumprem um papel necessário, pois, ao gritarem palavras de ordem antigas, estimulam nos que desejam mudanças a vontade de gritar também, e mais alto. Entanto, o que se veem por aí são jovens - e mais jovens ainda - entrincheirados em suas redes sociais dispostos a atacar qualquer um que discorde da sua forma de imaginar como deveria ser o mundo perfeito.
           É realmente triste ver uma criança levantando a bandeira de uma intervenção militar como solução para os descaminhos sociais do país. Mais preocupante ainda é a forma como os oportunistas de plantão se aproveitam disso para construir palanques políticos, onde possam esbravejar e torturar nossa inteligência com discursos de ódio e discriminação, criando, assim, uma legião de seguidores cegos, como na estorinha do flautista mágico. Que o destino de seus seguidores não seja o mesmo dos ratinhos do conto de fadas!