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domingo, 24 de abril de 2011

NÃO PERCA!!!!

PASSANDO A LÍNGUA NA CANÇÃO, DÉCADA DE 50, MÚSICA, ARTE E HISTÓRIA, COM OS PROFESSORES HELDER GONDIM, LEIRTON CARNEIRO E SINVAL FARIAS. DIA 29/04, ÀS 19H00, NA ANTESSALA DO TEATRO EMILIANO QUEIROZ, SESC DA AV. DUQUE DE CAXIAS. LUGARES LIMITADOS. COMPAREÇA. ENTRADA GRATUITA!!!!!!!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

amor é ver que arde sem ser fogo


Ontem mesmo, encomendaram-me palavras
que desnudassem o amor...
Qual nada! Que a mais devassa das meretrizes
ou o mais tolo dos etimocratas assumam tal posto!
Ai, amor, tola sagacidade, arco senil desmanchando as cores
e enervando a vista...
O melhor a se dizer nas sentimentais horas
não é o providencial eu-te-amo, frase pouco sonora...
Bom de verdade é realizar o amor, fazê-lo, comê-lo, cheirá-lo!
Bom é ver o ser amado de novo e de novo e sempre mais uma vez!
Bom é ter necessidade de um pai e, voilá, ter um pai;
buscar um abraço fraterno, uma conversa solta à beira-mar e, de pronto, ser atendido;
desejar um amante voraz, indomável, sem medo de escapar do óbvio, e ter as roupas imediatamente rasgadas;
em outro plano, ter um professor eficiente, um médico dedicado,
um psicólogo atento, um exorcista eufórico, um empregado fiel,
um namorado imberbe, um bichinho divertido, um amigo delicado...
Amar é o estancar das horas, é queimação no estômago depois de uma noite de porre,
é lugar em que se atraque sem motivo, é o amparo de uma gestação inconha e frágil.
É que nem estante de prateleiras infinitas, cada uma depositária de milhares de sonhos...
Amor não se guarda em uma gaveta só!
Amor não se guarda... e só!
 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Agora


De tanto tempo em tempo,
nunca houve tempo
pra esse sentimento temporão

E, de tanto contratempo,
não se espera tempo como antes,
tempo de clarão.

Que me leve com leveza,
eu ali no bolso, fingindo de morto,
pra ninguém notar.

Que se lembre da certeza,
aquela que, em noite aberta,
nos fez acordar.

Talvez, no meio de tantas horas,
desertas, outroras,
eu possa remoçar...

Nosso tempo sempre foi agora,
nosso tempo sempre foi agora...

* Mais uma canção que me atrevo a compor. Cantemos à vida e ao tempo de todas as coisas, que vão sem um instante de voltar...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O texto a seguir é de meu filho. Com uma pitada de minhas, por vezes, insistentes (des)orientações, ele elaborou uma carta imaginando-se uma árvore a escrever para um humano. Com essa redação, João, meu filho, participou do Concurso Estadual dos Correios. Ficou em terceiro lugar. Não há palavras que descrevam com precisão o orgulho de ser pai desse pequeno. Apreciem, pois, o texto de meu filho.


Fortaleza, 21 de março de 2011


Madeireira Liberdade
Diretor
Pedro Jatobá

Caro Diretor:

          Como tem passado? Espero que esteja tudo muito bem com o senhor. Sei que vai ser difícil de acreditar, mas, por incrível que pareça, eu sou uma árvore. Isso mesmo, uma árvore, como tantas que existem por aí, ou pelo menos existiam. Achei que já estava passando da hora de me manifestar, afinal de contas a sua madeireira não está facilitando em nada a vida da gente.
          Desde que eu era um brotinho cheio de sonhos verdes, venho notando que, a cada ano, pessoas como o senhor, com uma visão um tanto comercial demais, teimam em querer nos derrubar, sabe-se lá com que intenção. Outro dia, um mogno amigo meu disse que um primo dele terminou como um guarda-roupa na casa de um humano endinheirado. Sinceramente, eu não quero me tornar um guarda-roupa, uma escrivaninha ou qualquer coisa do tipo.
          Bem que o senhor poderia tirar um tempinho para me visitar. Isso seria uma boa ideia! Talvez assim o senhor se lembrasse de como é gostoso descansar à sombra de uma árvore. Além disso, ajudamos os humanos a relaxar, damos paz a eles. Com certeza, o ar fica bem melhor quando estamos por perto. Eu sei que depois de tanto tempo na cidade, respirando asfalto e concreto, as pessoas se esquecem da nossa importância para purificar o ar que elas respiram. É uma pena!
          Dia desses, um casal de namorados sentou na minha raiz. Pareciam felizes. Gravaram o nome deles no meu tronco. Depois, uma família apareceu para tirar fotos comigo. Achei bem divertido, mas também fiquei preocupada. Estão tirando fotos comigo, como se eu fosse algo em extinção ou coisa assim. O senhor já imaginou se não existissem mais árvores no planeta? Para começar, o mundo viraria um forno, o calor seria insuportável e o ar carregado ficaria irrespirável. Sem falar das frutas, dos remédios que fabricam das nossas folhas e cascas, da felicidade que proporcionamos a todos que nos procuram.
          Por favor, senhor Diretor, não pense que estou sendo pessimista. Pelo contrário! Apesar de ter perdido muitos amigos por causa de desmatamentos, ainda acredito que é possível que árvores e humanos possam viver em harmonia, um ajudando o outro. É verdade que a situação não está fácil, mas ainda há chance de recuperar o verde perdido e fazer o planeta continuar tão belo como era nos tempos passados. É bom o senhor saber que não estou falando apenas em meu nome. Existem muitos animais que dependem da minha existência, inclusive a sua espécie, Diretor.
          Tenho algumas sugestões para o senhor. Que tal esquecer as áreas de preservação ambiental e utilizar árvores de reservas plantadas pela própria madeireira? Bem que essa sugestão poderia ser seguida por todos os seus amigos derrubadores de árvores. Outra ideia é aproveitar o prestígio do seu negócio para promover campanhas de preservação das florestas. Tenho certeza que o senhor vai ganhar muito com isso, conscientizando as pessoas de que vale a pena adotar uma árvore como eu, cheia de vida e de história para contar.
          Confesso que tenho medo de ser derrubada, por isso quebrei o silêncio e decidi escrever esta carta. Sei que o senhor vai me entender, afinal de contas os humanos são muito inteligentes. Eu sei disso. Já vi muitos dos seus avanços. Pode não parecer, mas sou uma árvore centenária, mesmo estando firme e forte ainda. E é por acreditar na capacidade humana de criar coisas belas que sei que o senhor vai repensar sua forma de agir, pois nós dois sabemos que não existe nada mais belo do que a natureza.
          Obrigada pela atenção e, por favor, nunca esqueça que podemos viver em paz, um cuidando do outro.

Cordialmente,
Jequitibá-vermelho.



domingo, 17 de abril de 2011

Aparência



O que você pinta de modo aparente
é o que me atrai na cor.
Mostra-se frágil, mas eu sei resistente
no matiz que se ocultou.

A sua tela é uma janela
para o amor.
Entro por ela, minha aquarela,
seu pintor.

O que você sente parece ausente,
mas é o que distrai da dor.
Todas as cores furtam cor de repente,
revelando o tom do amor.

Guernica bela, sempre a mais guerra
para a paz do cantor.
Vênus de Milo, deixa comigo
seu ar fresco.

* Essa é uma canção composta por mim e por Helder Gondim, um grande compositor e cantor. Um dia, quem sabe, chegaremos lá. Se não, já valeu pela viagem.

domingo, 10 de abril de 2011

          Vez em quando, as coisas acabam. Bem que nos permitimos uma cegueira temporária, uma providencial perda de sentidos que, por falta de originalidade, definimos como esperança. Mas as coisas acabam assim mesmo. As viagens mais intensas, a ostentação mais extasiante, as noites de magazines e ilhas, tudo isso é artifício, fogo de artifício, que encanta no exato instante em que também se esvai  e se torna lembrança esvanecida no céu. As coisas simplesmente acabam. E o encantamento? O folhetinesco encantamento pelo outro, que se tornou outrora? Que fique sempre para outra hora, pois o que é do homem o bicho não come! E o pior é que come, devora, macera, ainda vivo, exangue. Que bom que as coisas acabam. Mesmo o espelho consentido, o que nos encontra pela manhã e nos revela a nítida face do tempo; mesmo a mão sempre estendida por puro desvelo, por simples devoção, sem esperar nada em troca, nem mesmo essa mão íntima, que todos gostariam de ter com ela, que todos dariam uma das mãos em troca dessa mão doce, humilde, que lhes apontasse as certezas do mundo, qual anjo ou enigma; mesmo as fotos passadas, há muito destituídas de sonhos, embotadas de recordações tão distantes, que já nem merecem o nome de saudade. As coisas inutilmente acabam. Se acabam, alvíssaras! É tempo de mudança. As criaturas humanas não conseguem, em princípio, entender o poder da mudança. É tão necessária quanto uma noite de chuva ou um dia de sol. Se ficamos para trás, paciência, repitamos o processo de uma forma diferente; não trato de perseguir sonhos, porque não me vocacionei para tanto. Quero dizer que é preciso lançar olhares novos sobre velhas coisas. Mesmo assim, algumas coisas não resistem e acabam. Aos que almejam a uma vida tradicional, grinaldas e fotos, filhos e televisão, quintais e frango de domingo, a esses desejo a filosofal paciência dos conformados, que a vida é isso tudo e não é, que a felicidade tem sabor de ópio ou de frango, depende de quem chega ou de quem parte, e é natural que sejamos vermelhos em terra de vermelhos ou azuis em terra de azuis; agora, quem tem coragem de ser preto-e-branco? Não mais terei com o passado no que escrevo, que o passado é um último palito de fósforos na caixa, melhor deixá-lo por lá, guardado, sem muita pretensão; não se sabe quando vamos precisar do passado; normalmente ocorre quando o futuro não nos encontra na hora aprazada e o presente nos engana com suas promessas de sorriso fácil; a melhor coisa que existe é um passado que não se fecha para nós. E a pior coisa do mundo é que as coisas acabam.   

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Que linda era a borboleta,
ligeireza e inconstância, transformação e recomeço!
Que cores nas asas membranosas, cobertas de escamas; bicho-poesia
saído do casulo, ex-estágio larval alimentando-se vorazmente;
crisálida dependurada pelo par de falsas pernas!
Na minha calçada, que linda! Que linda dobrando suas asas para cima,
asas furta-cores, prismas de ar!
Foi então que um menino magro, preto das sujeiras do mundo,
indigência sem asas, passou correndo e, sem piedade,
esmagou a bichinha com seu pé descalço...
Que lindo era o menino, pisoteando insetos
e catando Sol!





sexta-feira, 1 de abril de 2011



          - Ainda sangra, vez em quando, e o sangue vira texto!
          - Escrever não cicatriza?
          - Apenas cauteriza, mas a dor continua...
       
       Houve um tempo em que todas as inocências
                                                                  nos salvaguardavam,
       as madrugadas nos guarneciam
       e as esperas eram frouxas, brandas...
      
       Se um dia esse tempo retornar para distrair as dores do corpo,
       bodas serão, sem alvura ou decência...
  
       É tarde, que o espelho de outrora turvou-se,
       e as imagens antigas amofinaram!
      
       E no relógio não existem mais ponteiros:
       um porta-retratos inócuo aponta para os dois caminhos,
       mas apenas um deles ampara.