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sábado, 26 de junho de 2010

Os únicos

          O ano é 2016. Depois de inúmeros fracassos em supostas negociatas de paz, o inevitável apertar dos botões teve início. As potências bélicas mundiais dispararam centenas, milhares de bombas nucleares, numa queda de braço atômica que só terminou quando nada mais sobrou, nem soldados, nem civis, nem baratas. No planeta, em jus ao nome, restou apenas terra e pedras. Os mares secaram, os bichos foram pulverizados, os céus acinzentaram-se definitivamente. Estranhamente, dois sobreviventes, os únicos na imensidão morta, enquanto buscavam alguma razão para não acreditar, encontraram-se.
          - Você!
          - Eu!...
          - Não acredito...
          - Provavelmente eu também não acreditaria, se soubesse em quê...
          - É você!
          - Bom, disso eu já sabia. Agora, quem é você?
          - Não se lembra?
          - Pela pergunta que fiz, a resposta é óbvia, não acha?
          - Meu Deus, mas logo você...
          - Está me deixando curioso.
          - Você realmente não se lembra?
          - É o que parece...
          - Nós dois!... Nós nos conhecemos...
          - Melhor corrigir, você parece me conhecer, mas eu não me lembro de você.
          - É que nós já...
          - Já fomos casados?
          - Não!
          - Noivos? Namorados?
          - Não! Não!
          - Então?
          - Nós fomos amigos, ou melhor, mais que isso...
          - Mais que amigos, mas não namoramos ou casamos. Isso me parece estranho. Sinceramente, não creio que você seja da família. O que fizemos de tão marcante?
          - Nada. É que nós éramos importantes um para o outro.
          - Nem tanto, senão eu lembraria. Talvez eu tenha sido mais importante para você do que você para mim.
          - A verdade é que, um dia, eu amei você!
          - Amou? Mas como? Aprendi na vida que amor exige, no mínimo, companhia. Se você verdadeiramente me amasse, estaria do meu lado, mesmo no fim do mundo, mesmo diante de tamanho desespero, mesmo crendo que não haveria amanhã...
          - É que já faz dez anos...
          - Dizem por aí que quem ama espera. Viu o que dá esperar tanto! Não sobrou nada, nem uma árvore para gravar nossos nomes com um canivete.
          - Tinha medo do que sentia por você...
          - Medo? Do jeito que as coisas estão, medo é a única coisa que sobra. Mas não faz sentido ter receio de revelar algo tão raro quanto o amor. É verdade que pode parecer um tanto perigoso, afinal amar não é para quem não se arrisca. Quem vive uma vidinha regrada, cercada de horários, afazeres, agendamentos, esse nunca experimentou amar. Olhe ao seu redor. Só nos resta o caos. Talvez o amor seja o avesso disso.
          - Mas agora nos reencontramos...
          - Você me reencontrou, mas eu apenas encontrei você...
          - Agora podemos ficar juntos...
          - Não há mais razão para isso. Esperamos tempo demais. O mundo acabou. Não há mais poesia a ser comentada, nem lua que nos ampare, nem serra por visitar, nem relógios para quebrar, nem nada...
          - Quer dizer que...
          - Quer dizer que ainda nos restam as mãos, mas essas nunca seguiram unidas, como que por vergonha do que outros diriam.
          - E nós?
          - Façamos um trato: Caminharemos em direções opostas até desaparecermos no limbo. Se, daqui a dez anos, nos reencontrarmos, ficaremos juntos e refaremos nosso mundo.
          - Mas isso é impossível...
          - E assim não são todos os amores?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Este é um texto de um aluno (leia-se amigo), no qual ele expressa sua sentimentalidade em relação à amada. Pediu um espaço no blog para publicá-lo. Seja bem-vindo, meu caro Ruan.

         
         
          O encantamento, na sua nuance mascarada de perfeição, concebe uma ponte de ânsia sustentada por hastes de convicção em um futuro que transpõe a lógica dos mortais e torna-se mais presente ao passo que o tempo avança.
          Será fruto de um fascínio quase inocente ou existe uma ponte limitada para os corpos, e infinita para as almas, que preencha a amplitude que nos separa?
          Nesse momento, percebe-se que a diferença entre dois substantivos é um verbo; que a imaginação converte-se em realidade por meio do querer.
          Não quis o mundo, pois não me daria você. Mas quis você, uma vez que me daria o mundo. Mundo em que faço morada me sentindo cada vez mais seguro, realizado e principalmente feliz. Felicidade que se encontra na casa, na família, na vida e até na própria existência. No entanto, a minha encontra-se, também, Na morada.

Feliz Dia dos Namorados!