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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Falta ao brasileiro em geral a sensação da cidadania ou, ao menos, a intenção de sentir-se parte efetiva de uma comunidade, de uma nação. Para isso, é necessário compreender o que parece (a apenas parece) relativamente simples: somos agentes políticos e sociais e, por isso mesmo, os que detêm o poder político, econômico ou midiático precisam reconhecer que, sem o aval do povo, suas atividades de nada valem. Em tempos de informações interconectadas e rápidas, a massificação e a manipulação advindas de setores da mídia imputam ao público (normalmente passivo) duas sensações, a meu ver, perigosas: primeiro, a de que a imprensa existe para defender as instituições democráticas e para esclarecer a população, de maneira precisa e imparcial, tornando-se, pois, o baluarte da ética e da liberdade, desde que não ousem contrariá-la; segundo, a de que a violência, mercadoria das mais disputadas pela mídia, faz-nos reféns de nós mesmos, e é preciso desconfiar das sombras, desde que seja a sombra de um garoto negro, pobre, morador de comunidade, sem ostentar grifes, sem o olhar seguro e anêmico dos que vivem em melhores condições. Jovens de classe média-alta aglomeram-se em shoppings, temos um encontro de tribos. Jovens de comunidades menos privilegiadas reúnem-se com as mesmas pretensões, temos um "rolezinho", e as portas das lojas se fecham, e o caos se instaura. São vândalos os que corrompem símbolos de poder e opressão, mas os que, durante séculos, enriqueceram às custas do clientelismo, das transações espúrias, da miséria humana, da politicagem, da exploração da mão de obra, esses passam por vítimas. Não quero com isso defender atitudes extremistas. Pelo contrário. Atingir símbolos de um sistema falido e elitista é uma coisa. Ferir pessoas é outra completamente diferente. Entanto, a Copa do Mundo está aí. Nos estádios, vozes orgulhosas das cores nacionais disputarão espaço nos ecos do hino nacional. Espero, contudo, que as ruas não se calem por causa de um gol de Neymar e companhia e que os gritos de paz, saúde e educação sejam mais lancinantes que os rojões e as balas de efeito moral. Professores, estudantes, médicos, policiais, donas de casa, não importando o rótulo ou a estratificação social, todos devem torcer pelo Brasil. Não me refiro, obviamente, a um time de futebol. Falo de uma nação. Macunaímas que somos, precisamos de uma identidade, de um reconhecimento, de um caráter. Quem sabe o placar se inverta! Quem sabe nos descubramos parte do mesmo time! Quem sabe as coisas mudem!

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