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domingo, 18 de agosto de 2013

Se não se sabe amar, como lidar?




          Perdi, há muito tempo, as condições necessárias para estabelecer qualquer relacionamento amoroso com quem quer que seja. Esqueci como lidar com a convivência, com os amparos sentimentais, com as vidas entrelaçadas. Mesmo a simplicidade das mãos dadas, em passeio leve pela calçada, não me soa de modo natural. Abraço então, nem imagino por onde começar. Pensando nisso, recorri aos compêndios, aos conselhos dos mais experientes, para poder formular alguns requisitos básicos para se iniciar e, sobretudo, para se manter uma boa intimidade sentimental. 
1. É urgente desenvolver uma técnica de aceitação do outro. Compreender que felicidade sem compartilhamento é tão doloroso quanto tristeza. Ter coragem, sim, de ousar, surpreender, fazer a pessoa amada sentir-se aninhada. Flores não saem de moda e devem ser despendidas nas ocasiões urgentes. Se houver animosidade, se a infelicidade teimar, deve-se lançar mão do velho buquê de rosas, que cura e abençoa, anunciando dias melhores. 
 2. Não esquecer jamais a beleza do toque, do estar-junto, do abraço, do ladeamento. Amores, muitas vezes, vão-se embora ou, o que é bem pior, sequer principiam. Amar não é fácil, exige sangue no olho e desprendimento, mas não se deve abrir mão de si mesmo. Anular-se em função do outro é obsessão, doença. Amor é, em essência, libertação. Enquanto a pessoa amada ao lado estiver, sempre é preciso dar a ela motivos novos e convincentes para um próximo encontro, que pode ser o último ou o decisivo.
 3. O que se sente deve ser dito. Muitos murcharam antes do tempo porque se engasgaram com o que nunca foi dito. Se é amor, que se manifeste. Que se entendam, por serem óbvios, os processos que levam do sentir ao expressar. De um singelo eu-gosto-de-você até um preciosíssimo eu-te-amo, os rumos são desgastantes e tortuosos, mas, havendo o que dizer, faça-o com a verdade de quem sabe que momentos assim jamais serão esquecidos.
4. Alegria, o segredo de qualquer convivência. Sem ela, os dias passam rápido demais, desmantelando-se em rotinas e culpas. Parece-me fácil alegrar o ente amado. Uma mensagem de carinho, uma ligação inesperada, um encontro fortuito, pronto, os olhos recuperam-se de qualquer cansaço e os batimentos cardíacos seguem o compasso agalopado do nome de quem se ama.
5. Dizer a verdade é crucial. Expor-se como se é, sem subterfúgios. Se doer, que doa. Infelizmente, em tempos de internetização dos sentimentos, a dor insiste em não ser virtual. Mas, se for por uma verdade bem dita, ainda que doa, o tempo fará com que se olhe para trás e se tenha a impressão de que tudo foi feito por puro zelo, uma vez que mentir não extirpa a dor, mas torna-a uma metástase. 
6. Caminhar de mãos dadas é, sim, parte da história. No final, a memória vai fazer questão de guardar a integridade desses momentos. Entanto, deve-se ter orgulho dessas mãos unidas, sinais de bons presságios, de boas novas e esperanças.
7. Nunca se pode perder o encantamento. Mirar o outro com ternura, sorrir ao fazer isso. Sentir-se amado e amar como se fornecesse o essencial para dois crescerem unidos e intransponíveis. Dar-se ao olhar, reconhecer-lhe as carências, desvendá-lo. Cantar. É indispensável cantar junto. E gritar. E dançar. E rodar. Mesmo que não se saiba como fazer tudo isso. 
8. Terminantemente proibido é desistir do que se quer. Se vale o enfrentamento, à guerra! Esfriou? Ame mais, surpreenda mais, persista mais, enlouqueça mais. Amor é para os loucos. Dessa forma, tem-se que fazer valer o título de insanidade.
9. A presença nos momentos mais importantes é fundamental. Aniversário, Natal, Réveillon... momentos profissionais marcantes, formaturas. Ainda que os instantes carreguem-se de tristeza, que se esteja lá. O tempo não pode desatar nós que as mãos unidas conceberam com  tamanha urgência. 
10. Por fim, para amar, só há uma saída: realizar o amor. Cultivá-lo, dar-lhe de beber, alimentá-lo a todo instante; fazer com que as famílias se unam com isso, criar paz. É isso. Definitivamente, amar pressupõe paz. Não é cidade, é campo. É praia mansa, alisado de rabo de gato, dedo mindinho de bebê, café de mãe. É paz. Agora, por certeza, não há paz sem luta. Que essa serenidade venha sem receio e que o tempo, estranhamente generoso vez em quando, devolva ao amor a paz necessária para frutificar!

3 comentários:

  1. LINDO LINDO LINDO

    Beijos, Rose

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  2. Belo texto gostoso de se ler faz lembrar de amores passados e momentâneos, querer viver o amor presente e cultiva-ló para o futuro!

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  3. Texto maravilhoso! Adorei a parte "O tempo não pode desatar nós que as mãos unidas conceberam com tamanha urgência." Parabéns Sinval ;)

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