Amigos leitores que por aqui já passaram

domingo, 11 de agosto de 2013

Domingo



          Domingo devia de ser feito árvore de natal, preenchido de luzes e motivos de celebração. Era de ser por comemorar o recomeço. Encontrei um relógio de bolso, banhado de prata, e chovia. Se alguém o perdeu, por puro descuido, é porque havia de parar comigo. Em verdade, já era meu. Apenas se deu conta disso em tempo de me surpreender. Todo domingo tinha de ser assim. Menino ainda, mamãe encontrou um cão de olho vazado. Aos poucos, o bichinho foi ficando. O que começou por piedade tornou-se paixão. Bem que o domingo podia ser como esse cãozinho caolho, a quem papai providencialmente apelidou de Lampião. A névoa no quarto, em clima serrano de menino, é o domingo que espero. A primeira vez no cinema, com meu pai, é domingo. As mãos enlaçadas pelo orgulho de amar, passeantes pelo desejo de esperançar de felicidade um mundo que já não se toca. É domingo. A frase que pede e que, a um só tempo, entrega, o compromisso selado materialmente pela aliança escondida debaixo da pedra, o primeiro beijo depois de tantos sem o mesmo gosto. Domingo. O vazio das horas preenchido pela presença maciça de um colo, um filminho por pretexto para o aconchego, o quarto cheiroso da pipoca, o sabor das primeiras namoradas. Apenas no domingo. O primeiro eu amo você, enquanto a vida se distrai da dor e dos temores, e os filhos que ainda não foram, ainda que jamais sejam, por ali ganham forma e, às vezes, até nome. Domingo. Não confio na segunda, que é de concreto. Domingo é o cartão do presente. Por enquanto, meus domingos são vazios, sem as luzes que lembram as festas. Mas domingos de verdade virão. Domingo devia de ser feito sonho. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário