Amigos leitores que por aqui já passaram

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Irônicas

À criança, será propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la a, em condições de iguais oportunidades, desenvolver as suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade.

A filha, depois de muito matutar, sugere à mãe:
- Mamãe, pinta um quadro!
- Então, o que quer que eu pinte? – devolveu a mãe, em sorriso, entre interesse e sonolência.
- Uma mulher de olhos azuis e barriga verde!
- Ora, meu amor, não existe mulher assim, de barriga verde! – e a mãe deu de sorrir da ingenuidade da menina.
- Mas não é uma mulher, mãe, é uma pintura! – e a menina, sem perceber, reinventou todas as formas de arte.


Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira em seu desenvolvimento físico, mental ou moral.

Veio o primeiro, cabeça rala, braços secos, marcados de surras, carregados de nãos. Foi até ao meio da faixa de pedestres e, atento ao semáforo, curvou-se, apoiado nos próprios joelhos. Eis que surge o outro, de sorriso largo, quase uma afronta, uma revolução, em carreira curta, saltando para as costas do primeiro moleque.
Criaturas unidas – o de baixo, mais velho, estende-se em mendigação; o de cima, pequeno ainda, esquece a vida, que o avião voa baixo, de ver as rodas de pouso, impossível não se admirar.



Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe.


Chovia em desespero. E menino liga para chuva? Qual nada, apenas admirava-se das estrondosas estripulias dos trovões, que mais tarde se tornariam bons confidentes. Passou horas na incubadora, deu trabalho à enfermeira, voltou ao ventre umas cem vezes. Em tempo, sobreveio o afago materno, e ele descobriu o mundo. Como mãos tão pingo-de-chuva podiam acolher a ponto de esquecer a friagem, de fazer brotar o mesmo cheiro do ventre, de sentir no toque de suas asas o peso de todas as esperanças? Assim se lhe apresentava aquela mulher, sozinha como ele, também recém-saída de uma incubadora.
A tempestade e o colo eram uma coisa só. O menino fez a chuva rasgar a janela e os pingos perfuravam-lhe a face. Gargalhou com vontade, que os preguinhos, assim era a chuva, faziam-lhe cócegas.
Os cuidados da mão materna eram tantos, que ele mal conseguia roçar na parede molhada, por onde escorria um olho-d’água. Assustou-se ao ver no céu um buraco do qual não caía água. Rompia um rastro luminoso, seguido de uma imensidão azul que não lhe fazia bem. E viu que a chuva tem seu tempo de ir e vir – nem tudo que é bom é azul. Por certo, tudo seria azul, bom ou mau. E sentiu falta da chuva. E pela primeira vez chorou, sem que ninguém notasse. E entendeu que gente também chove.


Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e a uma nacionalidade.

Duas repórteres, já no final do expediente, decidem alertar a sociedade para a situação precária dos meninos de rua.
- Ali tem dois, três, um monte...
- Dá um bom caldo, matéria pra veiculação nacional.
Aproximam-se calmamente de um dos meninos. Desinteressados, os pobrinhos continuam a soprar as garrafas plásticas.
- Como vai?
- ...
- Como é seu nome?
- ...
- Você pode conversar comigo?
- É pra televisão, moça?
- É sim! Vai ficar famoso!
- Que é isso, moça...
- Você não tem nome?
- Tem não.
- Você tem pai ou mãe?
- Tem não.
- Você sabe o nome do nosso país?
- Sei...Fortaleza!
- E o nome da cidade?
- Sei não.

Um comentário:

  1. '' Você sabe o nome do nosso país?
    Sei...Fortaleza!
    E o nome da cidade?
    Sei não. '' Choquei com isso!

    ResponderExcluir