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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sobre fazer amor e amizades


                 Quero viver das amizades que mantenho: não as que, de tão tridimensionais, tornam-se insossas, mas as que sejam palpáveis, porque amigo é para tocar, cheirar, abraçar, empurrar ladeira abaixo, puxar pelo braço, esbofetear. 
             Fazer amizade é como fazer amor com alguém. O encontro furtivo, a estranha capacidade de compreender os sentimentos e as reações do outro, as inesperadas revelações, as discussões devastadoras, a  entrega total e absoluta, quase filial. Refiro-me, é claro, às amizades verdadeiramente imprescindíveis. Alguns encontros que a vida teima em nos proporcionar são descartáveis, mas esses não merecem lembrança. Ser amigo é mais que simples esbarrões pelas calçadas, sejam elas reais ou virtuais. É um nascedouro. Uma esperança de que, apesar de tudo, ainda existem pessoas que, mesmo tão diferentes, despertam-nos a nítida impressão de estarmos diante de um espelho. É nos amigos que nos reconhecemos em essência. Com eles, somos permissivos, desbocados, inteligentes, estúpidos demais. E o melhor é que, mesmo cometendo o pior dos despautérios, a amizade nos guia pelas perigosas trilhas do perdão. 
              Quantos amigos podemos ter na vida? Se não fossem os computadores, três ou quatro, no máximo. Amigos que frequentem nosso quintal. Esse era o termômetro que meu pai utilizava para mensurar o grau de afeição com outrem. Aos estranhos, a área. Aos conhecidos, a sala. Aos parentes, a cozinha. Aos amigos, o quintal. E não é para qualquer um que abrimos as portas do nosso quintal. Agora, para atingir o tão almejado posto de amigo, o camarada tem que merecer. Como fazer? Simples. Apresente-se. Esteja à disposição. O segredo de uma boa amizade é estar sempre disponível. Às vezes, os amigos celebram, mas, em outros momentos, simplesmente acompanham até a venda, assopram ciscos do olho, tiram formigas da gola da camisa. As grandes amizades se alimentam desses pequenos gestos. 
               Amigos são insubstituíveis. Entanto, há quem diga que ninguém o é. Tolice.  Não percamos tempo acreditando nisso. Ninguém há de me substituir por uma razão simples: sou único. Quem haveria de ser igual a mim, com os mesmos tratos e trejeitos? Assim são as amizades. Em dados momentos, afastam-se de tal maneira, que chegam a quase sumir no horizonte. Mas é impossível substituí-los. Onde eles estarão agora? Que importa! Basta que eles estejam no mundo, é só. Em qualquer lugar que seja, nossos amigos estão prontos para nos amparar, desde o primeiro, até o último degrau. Sem eles, embora o caminho fosse o mesmo, não conseguiríamos prosseguir. É que nós, sem eles, jamais seríamos os mesmos. 

3 comentários:

  1. O amor de um amigo vale muito mesmo. Adoro tudo que escreve, e esse texto é o meu preferido *.*

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  2. Engraçado, nós realmente percebemos quem são os nossos amigos quando esses realizam pequenas atitudes como as descritas no texto.

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