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segunda-feira, 21 de março de 2011



          Procura-se um tempo perdido no sótão; tempo-menino, de rosto marcado pela nódoa das frutas de vez, das jaqueiras antigas, das ladainhas de carpideiras, dos alpendres da lembrança, da alpercata emborcada a sentenciar os entes. Pai de todas as coisas que frutificam e sofrem, trazei de volta a revoada de moleques pelo asfalto celeste, pedra recém-coberta, que é lua cheia, que o lume travesso do bojo faz cintilar o betume, e se fica sem saber o que mirar, se a lua e suas orações, se o piche e as ilusões de espelhamento. Senhor, purificai-me as escolhas, que ainda há uma vereda entreaberta, que a finória sombra das vozes eternas persiste, que o desejo de encontrar é torpor, e o mais piedoso dos homens, vestal por isso mesmo, pedra de todos os fundamentos divinos, o mais crente e piedoso dos homens olharia para trás em sina de arrependimento. Por que, em Tua versificação moderna, deixaste de compor o estribilho que simulasse a contemplação da mais espantosa Lua, nunca d'antes admirada, Lua impressionista, simulacro de todas as cores, pincelada por mãos de estiva, Lua dos que amaram para que um dia houvesse uma Lua que, de tão cheia, e pálida, e lânguida, e inédita, permanecesse em órbita sem corromper-lhe a forma, marcada no átrio como numa página de carbono?

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