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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

in memoriam

Sossega teu grito, o que te espera é fonte
de regozo e infância. Ei-lo menino,
e de tua fronte renasce o instantâneo do mundo, qual parto,
que vieste ao mundo com a entranhosa marca da mudança.

Ao atravessares a avenida, não vejas a máquina, senão o homem,
oculto no metal retorcido, nas pálpebras fluorescentes,
apagado por certo, contudo vivo,
impregnado de soberba e limbo, e ainda vivo.

É favor reconsertar o que te conduz: o tempo, todos
os tempos, de outrora, de afora, de ora. Adormece pelo amanso
do cansaço porque assim invadas os aposentos das palavras
ditas e inauditas,
algozes, malditas, expelidas, inflamadas...

Sofre, que o sofrimento é tua arte, tua partitura,
e no espalmado das almas, no espasmo das vozes,
descobrirás o quanto ganhaste com as interrupções, os impostos, as medições –
reconstrói o bebedouro de tua senilidade, deposita o traquejo
de tuas mãos cálidas e calosas
no longínquo torrão de onde jamais saíste.

Age em teu favor e apaga aquilo que por séculos maculou-te o nome
e o de tuas crias. É venal o que te alimenta, a eutanásia das palavras vacila-te
o pensamento, entanto breve reassumirás teu posto, e o menino extático das presenças
e ausências recriará o universo e fertilizará, finalmente, os nomes e as coisas.

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