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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Carta de pesar à Mamãe Noel

          
          Querida Mamãe Noel,
          Pra começar, desculpe por incomodar num momento tão difícil, mas eu não podia deixar de expressar a minha revolta com o que aconteceu. Sei que a senhora deve estar tão indignada quanto eu, por isso não vou me alongar com pêsames exagerados ou qualquer coisa do tipo. O que quero mesmo é dizer que esse mundo está perdido, pois nem mesmo uma figura carismática e necessária como seu marido escapou. 
          Pelo que fiquei sabendo, Noel estava curtindo suas férias, tomando uma bela de uma cerveja, de frente para a praia de Copacabana, quando, do nada, uma bala perdida doida para se encontrar atingiu o bom velhinho nas costas. Se ao menos ele estivesse com o saco de brinquedos, talvez o tiro mudasse de rumo. Mas que imprudência! Onde já se viu sair do aconchego gelado do Polo Norte para se perder por aqui, no Brasil, no Rio de Janeiro! Será que ele não pensou nos riscos de um arrastão ou mesmo de uma bala perdida? Perdoe-me pela revolta, Mamãe Noel, mas é impossível não ficar assim. 
          Devo confessar, até com uma certa vergonha, que já fazia um certo tempo que eu não dava muita crença para o seu finado marido. Afinal, eu cresci e deixei naturalmente de lado algumas expectativas, como a de, numa noite de Natal, receber um presente por ter sido um bom menino. Eu sempre fui um bom menino, diga-se de passagem! E ele, o finado, nunca se lembrou de mim. Mas agora não adianta chorar pelo leite derramado. Estou realmente triste pelo que aconteceu. Mesmo não acreditando nele, com a morte do Papai Noel, eu simplesmente não vou ter mais em quem não acreditar, e isso é horrível. Onde vou despejar minha descrença? No Coelhinho da Páscoa? Esse eu sei que não existe, pois nunca caí nessa de que coelho bota ovo, quanto mais de chocolate. Mas Papai Noel, este sim despertava dúvida, mesmo quando já não tinha a menor esperança de sua existência. Todo dia de Natal, por exemplo, ao acordar, como que por impulso, procurava algum presentinho debaixo da cama, mesmo sabendo que não ia encontrar. Era de mim, como se estivesse enraizado no meu código genético. Espero que entenda...
          Não vou mais aborrecer a senhora com meus lamentos. O momento não é para isso. É que era muito bom não acreditar no finado. Mas que fique a lição! Nada de férias descabidas pelos calçadões cariocas! Melhor se abancar por aí mesmo. O máximo que poderia acontecer é levar uma chifrada de uma rena perdida, mas isso se tira de letra. Meus sinceros sentimentos pela perda.

          P.S.: Se precisar de alguém para distribuir os presentes no final do ano, entre em contato. Não se acanhe. Farei um precinho bem camarada pelo serviço.

          Carinhosamente,

J.L.

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