Amigos leitores que por aqui já passaram

domingo, 3 de outubro de 2010

Uma ex-aluna e hoje colega das Letras - Maria Eduarda - enviou-me algumas perguntas sobre os textos que publico neste famigerado blog. Decidi, pois, dividir as perguntas e as respostas com aqueles que por aqui passam. São excelentes perguntas. Espero que as respostas estejam à altura.



1) Você posta (no blog) com frequência. Posta à medida em que escreve, ou costuma publicar textos antigos? Faço essa pergunta porque vi que entre certos textos há uma diferença considerável de estilo e de como abordar algumas temáticas (inclusive recorrentes).


Há textos um tanto recentes, textos de gaveta e textos criados especialmente para o blog, talvez por conta disso se perceba certa diferença estilística e temática entre eles. Existem, ainda, diversos textos que não divulgo, por acreditar que talvez não sejam de fácil degustação. Devo dizer também que as variações estilísticas, mesmo em textos escritos pela mesma época, são decorrentes das experimentações que gosto de fazer. Utilizo o blog como uma espécie de termômetro no que tange à aceitação desses textos de experimentação.

2) A prevalência da prosa, em relação à poesia, no que diz respeito ao formato mesmo desses gêneros, é uma questão de preferência, ou tem a ver com o tempo disponível que você tem para escrever ? (Seus poemas deixam mais clara sua técnica. Nos textos em prosa vê-se a técnica também, mas parecem mais fluidos, naturais. É nesse ponto em que reside, a meu ver, a genialidade de um bom escritor: fazer parecer fácil e simples escrever bem. Considero você 'melhor' na prosa. É uma opinião muito particular, talvez você até goste mais de seus poemas, e talvez também eu tenha certa tendência a gostar mais de prosa, enfim.)


Creio que nem todos estejam aptos a interagir com a poesia, por isso prefiro publicar textos em prosa. Não obstante, a poesia é meu gênero predileto e já tenho um livro de poemas pronto, esperando apenas um prefaciante. Penso ser a poesia o ápice do fazer literário, portanto trato-a com bastante reverência, desde a versificação livre até a metrificação e a erudição vocabular, itens fundamentais para um bom poema. A prosa, tenho-a como um refúgio, um caminho sem farpas e espinhos, um atalho. Procuro em minhas crônicas e meus contos explorar a simplicidade na linguagem, o que, a meu ver, contrasta, às vezes, com a densidade temática de alguns textos. Não sou poeta, nem prosador, apenas escrevo.

3) Há temas bastante recorrentes em seus textos, como o tempo, a solidão, o receio, a traição. Não pode haver alguém absolutamente imparcial quanto à própria obra que escreveu, entretanto há níveis, digamos assim, de envolvimento entre autor e obra. Desculpe-me se estou sendo incômoda, é que sabendo que você fuma, bebe, já foi casado (ou ainda é) e tem um filho, sua obra é biográfica?

A expressão "obra biográfica" não se enquadra no que escrevo. Escrevo sobre os outros, o que certamente nos revela, uma vez que as atitudes individuais refletem-se no corpo social. Eu sou o que escrevo, na medida em que expresso neles minha visão de mundo, que pode ou não ser compreendida. O fato de eu fumar ou beber em nada influencia em meus textos. Para mim, fazer o que faço não é uma atitude destrutiva ou depressiva. Faço porque acho que devo fazer. As experiências adquiridas no decorrer da vida, as pequenas atitudes, as viagens, os amores impossíveis, as tramas da vida, tudo isso abastece o que escrevo, tanto na prosa como na poesia. Entanto, reitero: não há nada de autobiográfico em meus textos. Quanto à temática, gosto do que aflige o homem. A morte, a perversão, o tempo, as ausências, as angústias terrenas e etéreas, enfim, essas e outras são motivos recorrentes no que escrevo, porquanto o homem tomar consciência de suas limitações e fragilidades expõe aquilo que o ser guarda de mais íntimo. Na poesia, aproximo-me do lirismo, mas sem pretensões sentimentalescas. É isso.




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