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terça-feira, 26 de outubro de 2010

          Eu não acredito no impossível. Sei que parece um contrassenso, afinal de contas sou professor e, nas horas aprazíveis, escritor de meia pataca. Entanto, não acredito! Sou descrente, por exemplo, de que, um dia, as maiorias e minorias étnicas deixarão de lado as rusgas econômico-religiosas e tomarão café da manhã de mãos dadas, sorrindo sorrisos pardos, brancos, vermelhos. Evidentemente isso jamais acontecerá. Quem suportaria uma bandeira onicolor, qual arco-íris a anunciar o nascedouro de um novo tempo de paz e serenidade, tremulando cheia de pompa e indolência no quintal de cada cidadão universal.
          Não, só pode ser brincadeira pensar que o homem teria a mínima capacidade de enfrentar seus próprios desconfortos para preservar um ninho de mafagafos em uma floresta tropical qualquer, de um paisinho subequatorial qualquer. Certamente é um tolo quem cogita que as pessoas possam ser boas por natureza a tal ponto de esticar as mãos ímprobas na intenção – hipócrita, por certo! – de saciar a fome de pão e justiça de algum menininho estofado de giárdias e desesperanças. Meu Deus, perdoai os que, ignotos que são, dizem-se crentes das boas escolhas cardiovasculares. Por certo, as calhas de roda cordianas são insossas como comida de enfermo. Que passa na cabeça dos tolos amantes quando se crêem eivados de reencontros e quimeras? Mereço eu, pois, um argumento sólido que me comprove, com direito a todos os pingos nos is e jotas, a veracidade das palavras doces dos poetas de esquinas e saudades. Ó céus e terras, passem logo e dêem lugar ao cadafalso do juízo, pois ainda há os que se dão o direito de apalpar ilusões, como quem acaricia em sonho o rosto adocicado de uma distante lembrança. Impossível.
        Se chegar ao esfarrapo de adotar impossibilidades como rota de vida, internem-me a ferros e camisa de força. Aliás, por cinismo, eu certamente alegarei insanidade e regurgitarei motivos sem nexo. Direi, por certo, que vale a pena esperar o momento certo, as horas boas, um tempo de inocência guardado especialmente para acalentar-nos a alma. Que não é para se afobar, que nada é pra já, como diz a canção que compuseram em nossa honra. Que nos é necessário bem mais que um simples rompimento para arrancar-nos a anestesia providencial que a certeza do reencontro nos oferece. Que tudo que se faz espera tornar-se-á abraço. Que as coisas que ficaram por ser ditas esperarão o consolo aflito das bocas imantadas. Que somos, portanto, criaturas de reencontro.
        Que loucura! Alguém leu isso tudo? Acho que variei, como diria meu velho e saudoso pai. Será esquizofrenia? Não sei. Talvez seja apenas saudade.

Um comentário:

  1. Parece um texto de um pessimista, mas não. Que fique claro, eu acredito no impossível, ao menos na medida do possível. Trata-se, pois, de uma justa ironia. Para mim, é um texto sobre saudade.

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