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domingo, 9 de setembro de 2012

maktub


Não lembrar não é o mesmo que esquecer.
Esquecer exige angústia,
horas a fio de inanição puríssima,
de esgotamentos nervosos,
de clausuras nos mais infaustos porões.
Esquecer exige mágoa,
um ressentimento incontido,
algumas lágrimas por passatempo,
quiçá um lastro de desespero.
Agora, em alerta fiquemos todos,
que ao mínimo perfume coincidente,
ao mero passo por ruas antes expugnadas em mãos entrelaçadas,
às indeléveis suavidades do lençol manchado de memórias,
o olhar transbordará e a vida recomeçará,
sem pudores ou crenças,
que os deuses alimentam-se dos arrependimentos
e dos consentimentos,
e uma tenra mágica iluminará o que se torna azul
e o tempo esgotará suas artes,
e o que se punha gravado em pedras,
há tempos,
finalmente se realizará,
e os amores de todos os homens
ressuscitarão.
Algo nos espera pelos arcos da existência.
Preferível não lembrar.
Não é o mesmo que esquecer.

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