Amigos leitores que por aqui já passaram

domingo, 15 de abril de 2012

Machado de Assis, um blogueiro




Fiz parte, certa vez, de um grupo de aspirantes a escritores chamado Rosa Literária. Esse grupo, dizem, tornou-se a "última agremiação literária do século XX ". Ainda bem. Afinal de contas, para que servem essas patotas literárias, senão para nominar o inominável, para arrefecer tudo aquilo que os autores de verdade, com esforço e talento, levaram anos para construir. Além do mais, se fizermos um levantamento minucioso dos que habitam as reuniões de cera desses grêmios literários, veremos que muitos estão ali  por motivos outros, não por merecimento. Caso não esteja enganado, para ser escritor e pertencer a uma academia qualquer, é preciso escrever alguma coisa e, de preferência, publicá-la. E estou sendo extremamente condescendente, uma vez que sugiro a publicação de qualquer coisa, mesmo sabendo que essa "coisa" deve transparecer o mínimo de arte.
Nunca publiquei nada de teor verdadeiramente artístico. Somente alguns livretos comerciais de análise de obras indicadas a estudantes que fariam uma prova e, em geral, esqueceriam o que e por que leram; algumas apostilas, enfim, nada de mais. O que escrevo não se pode chamar de arte. São letras rejuntadas, apenas. Se me meto a poeta ou cronista vez em quando, é por pura falta do que fazer ou por simples revolta. Ocorre que sempre tive a necessidade narcísica de mostrar às pessoas o que escrevo, mas sem lançar mão de quantias absurdas para apapelar meus textos. Eis que me sugeriram um “blog”. Relutei, relutei, até que cedi aos apelos e, principalmente, ao fato de ser gratuito. Assim nasceu o “Língua Afiada”, que está chegando ao seu quarto ano de existência virtual.
Ocorre que, no início de minhas atividades bloguistas, colegas de Letras chegaram a murmurar que um blog somente para divulgação dos textos de um autor desconhecido não vingaria. Melhor que fosse algo funcional, voltado para concursos, vestibulares ou pormenores gramaticais. Ainda bem que não costumo dar ouvidos a balbucios. Deixei de lado os desincentivos e passei a publicar na grande rede, sem a obrigação do diarismo, textos variados, e vi que era bom. Algumas pessoas, em conta-gotas, foram se interessando pelo blog, comentando os textos, elogiando ou execrando, mas, sobretudo, lendo, o que é o mais importante.
Cheguei a ouvir que textos publicados nesse tipo de suporte, um blog, perdem o valor literário, tornam-se diários pessoais, impregnam-se de frivolidades. Se forem “rasas” demais, as publicações sequer merecerão uma piscadela acadêmica; se forem eruditas e convincentes, o grande público fará questão de passar pela outra calçada.
Na verdade, desliguei as desditas alheias e acreditei que poderia manter um espaço no universo virtual para divulgar exclusivamente o que escrevo, com total e irrestrita liberdade. Ademais, não podemos negar que os tempos são outros, e as tecnologias, se utilizadas de forma adequada, são instrumentos essenciais para a divulgação do trabalho artístico. Machado de Assis, se houvesse tido acesso a tanta inovação e progresso, certamente escreveria um blog, e isso não desmereceria sua obra.
Entanto, tenho consciência de que, enquanto meus textos não se materializarem em celulose, não serei levado a sério como escritor. Paciência.
Gostaria muito de ser convocado para participar de uma dessas Academias de Letras, apenas para ter o sublime prazer de recusar o convite. É que não me vejo prostrado entre bajuladores cheirando a mofo e a chá. Vou criar minha própria academia, a ACLV – Academia Cearense de Letras Virtuais. Quem sabe, dessa maneira, possa me tornar imortal pelo que escrevo, não pelas abotoaduras que ostento.             

2 comentários:

  1. Professor o deu texto é sensacional, retrata bem o profissioal que você é

    ResponderExcluir
  2. Bem professor, agradeço por pensar assim, pois eu particularmente não leio com frequência livros literários ou coisa parecida, então vejo em seu blog e em outros que acompanho, um meio mais atrativo de ler e desde que começou esse blog, leio sempre que possível, porque textos postados assim, o leitor tem a sensação de esta mais próximo do autor. Seria muito interessante que outros autores pensassem assim, e sim, acredito que Machado de Assis também usaria meios como esse para divulgar suas obras que não deixariam de ser maravilhosas!

    ResponderExcluir