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domingo, 8 de abril de 2012

Fundação


Não crio palavras, aproximo-as apenas,
condiciono-as ao tempo, torno-as pragmáticas,
distancio-as das vozes ocultas
e das imagens desbotadas dos antigos reflexos.
Que me tenham por feitor ou capitão do mato,
não por guardião: as horas me cedem quase nada.
Nesse estreito vão, por onde todos passarão um dia,
oferto versos sobretudo aos párias,
aos psicóticos e suas neuroses com espelhos,
aos enamorados das misérias e perversões,
aos tolos torturados pelas vozes de ontem,
aos restos deixados nas varandas d´alma,
aos posseiros, aos ignorantes, aos cegos...
Como o de uma criança, é doce o olhar do bandido,
antes do derradeiro tiro, eis do que é feito o verso,
e o espaço em branco habita o peito intranquilo
de um tolo desesperado que se crê íntimo de tudo
e se rasga por jamais irromper do casulo
e ser larva, verme dependente e rastejante.
Após tamanha laceração, a palavra é nada
e ninguém.
As carpideiras velam por ofício o infortúnio,
ao poeta cabe a mesma sorte,
e assim como na eternidade habita a morte
na palavra há um sopro
entre o escárnio e a iluminação.




Um comentário:

  1. Há uma fonte da qual a ciência ainda não teve acesso.Creio que você foi batizado nela!
    Este texto nos toca um pouco a alma!
    Parabéns!

    Silvana

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