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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro continua indo

          - Vamos brincar de Rio de Janeiro?!
          - Vamos! Eu sou do BOPE!
          Eram meninos, dez ou doze anos, por aí. Crianças que, com tranqüilidade, simulavam brincadeiras de polícia e bandido. Uma simples e necessária traquinagem infantil, se não fosse pela forma como se referiam à travessura. Rio de Janeiro agora é sinônimo de guerra, como o Kansas City de antigamente. Acontece que, nos faroestes de tempos idos, o bangue-bangue pipocava em um universo tão fantasioso quanto o criado pela pueril imaginação dos curumins. Não havia, por exemplo, balas que se perdessem, pois os pistoleiros do velho oeste não desperdiçavam mira com tiros sem direção. Um apertar de gatilho e pronto, o adversário já era, sem sangue, mas com uma boa dose de contorcionismos faciais.
          No Rio, a coisa é bem diferente. A violência é escrachada, quase um deboche, uma afronta àqueles que duvidavam de tamanha insensatez. É aterrador ver a organização da bandidagem, que segue uma hierarquia estabelecida na base do quem mata mais. Ademais, a quantidade de entorpecentes faz indagar de onde viriam as toneladas de maconha, as milhares de pedras de craque, os quilos e quilos de cocaína. Quanto ao armamento, é difícil explicar a origem de tantas pistolas, fuzis, granadas e outros apetrechos bélicos de arrepiar o mais truculento dos skinheads. Agora que o enfrentamento policial está devolvendo os morros aos seus pacíficos moradores, resta saber o que fazer depois, quando tudo estiver calmo e as pessoas recomeçarem suas vidas no sobe-e-desce das ladeiras da favela.
          O fato é que ainda não bolaram um caveirão capaz de barrar o avanço das milícias do abandono social e do descaso político. Imaginemos um Rio de Janeiro sem traficantes, mas com milhares de pessoas sedentas de amparo e igualdade. No meio desse povo todo, algum garotinho, acuado pelos porcos devoradores de lixo e sonhos, assumirá a responsabilidade de sair das vielas da pobreza, nem que, para isso, tenha que criar uma nova droga ou um novo Comando Vermelho. A imprensa e os setores interessados mostram as favelas como locais pacificados. Entanto, não existe paz sem liberdade. E ser livre é usufruir plenamente da condição humana, longe dos monturos que absorvem esperanças. A impressão que dá é de uma limpeza de quintal, para que os rostos alvos do Leblon possam passear tranquilamente, sem esbarrar com o cheiro da pobreza ou com os estilhaços da indigência.
          Agir energicamente é necessário, até porque é assim que os bandidos costumam fazer. Porém, sem uma intervenção efetiva para que os moradores das comunidades recuperem a plena cidadania, outros Marcolas ou Fernandinhos Beira-mar não tardarão a surgir, talvez mais violentos e sanguinários, por se sentirem enganados por uma sociedade que se perde em moralismos estrábicos. Enquanto isso, vamos torcer para que os meninos do início da conversa achem outro tipo de brincadeira.

3 comentários:

  1. Não resisti a tratar sobre o Rio de Janeiro.

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  2. Caro amigo Sinval.

    Hoje não comentarei o texto,
    mas apenas falarei da alegria
    de encontrar um grande amigo de palavras,
    neste mundo que alguns chamam virtual,
    mas feito de tanta vida,
    que prefiro chamar de coração.

    Que os sonhos te acompanhem sempre.

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  3. A Ida do exército, do BOPE e de outras mais forças armadas aos morros do Rio de Janeiro mesmo que não instaure a paz por completo, pelo menos ajuda os moradores a acreditar que eles podem ter um dia a paz que tanto pediram, pois não muito anunciado mais com grandes resultados conseguiram engrandecer a paz na Comunidade Santa Marta e q serve de exemplos p todas as outras comunidades.

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