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domingo, 4 de julho de 2010

EXTEMPORÂNEA

Às quatro, as horas pararam

no engalhamento das mãos –

arcanjos que me guiaram

pelo entrecruzar dos vãos.


Às quatro, o peso das coisas,

súbito, pôs-se a galope:

sua simples presença açoita

a mansidão do abandono.


Às quatro, fez-se vivente

no imaginário (uni)verso

eivada das indecências

derramadas sobre o tempo.


Às quatro, cravou a língua

nas ancas das solidão,

escarnando cada fímbria

dos ponteiros e dos nãos.


Às quatro, lúcida ou lúcifer,

enlanguesceu-se espantada,

que as ternas horas das núpcias

por tão pouco se findavam.


Às quatro, nas longas horas,

se não reparei seu grito

pelas noites belicosas,

é que fingi, por instinto.


Às quatro, restou-me a lápide

branda do porta-retrato –

imperfeição que não passa

pelo tempo, sempre às quatro.

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