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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A REIMPRESSÃO DO CORPO NO ESPELHO

O tempo apenas denota, tempo dicionário,
ulcera as palavras, que se escondem
entre Ele (o tempo) e o espelho, moldura vegetal,
primitiva, de terraplanar a carne,
insinstentemente polida, metalizada.
Trata-se de reconhecer o pulso,
apnéia dos olhos, conta-giros de ar,
bruteza antiga do barro retornante ao que é do barro,
e na sua não-imagem ambígua
vê-se o olho d’água, grotão-dos-minutos –
a cada gota cresce um veio
que define e resiste adensado, rupestre – tempo pétreo.
O espelho é a hipérbole do tempo,
desencorpa o essencial, a despeito do corpo
(igualmente essência), inaugurante das coisas
desditas, reditas; deita-se intumescido
e melindroso sobre as frases, macera a sintaxe
de tudo que se diria se não fosse Ele (o tempo).
As horas pendem-se em cordas finas,
des-ordenando os movimentos, infinitivando:
ao tempo, não importa o clamor, senão o clamar,
o cansar, o limar das pernas, das orelhas;
ininterrupto é o intento de acordar pela imagem,
irrefletida e agressiva, que a criança no espelho
se reconhece, os outros não, estes se encolhem,
reduzem-se à taipa: o único espelho que apetece
é o que emoldura agônico o rosto aberto
do passante ao longe.

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