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terça-feira, 6 de março de 2012

Silêncio e mudez


           O tempo, esse emaranhado de ponteiros farpados, não mais que uma ilusão, uma criação humana para justificar ausências ou distâncias. Com o tempo como fiador, fiz de minha vida um vazadouro das gentes que encontrei. E não foram poucos os que usufruíram das minhas indulgências. Mas, de todas as sombras, algumas poucas persistem, a despeito da escuridão que nos impele a fechar os olhos. E encontramos palavras insossas, como se servissem à cura de um doente. Para quem escrever? Ninguém. As saudades nunca me desafiaram. Ademais, que perda de tempo esperar que o mundo acorde de susto porque sussurramos em seu ouvido. Palavras, pessoas, não há diferença. Não passam de sussurros. Escreveria cartas de amor se soubesse como gritar. No entanto, sinto-me seguro ao acompanhar de longe. Não me ensinaram a amar em voz alta. Minhas professoras do primário, dedicadas ao ofício, obrigavam-me a ler em voz alta textos os mais ousados possíveis para uma criança de sete ou oito anos. Mas, quando comecei a ler o mundo, não tive coragem de participar minha leitura.  Afeiçoei-me aos silêncios. E silêncio não é mudez. Escrever é minha forma de incomodar a quietação das coisas. Às vezes, aceito textos por encomenda, assim como admito pessoas pela mesma condição. E assim me traduzo no que não sou. E o que não sou é outra face, o que desconheço em mim. Buscar no outro a matéria necessária à criação impossibilita um retorno incólume. O que há de fato é o que sobeja. Se existem palavras de amor, de ódio, de amizade, creio ser possível dizer das palavras de silêncio. Essas me conformam. Em breve, bradarei cartas sentimentais. Como os antigos românticos, sentir-me-ei liberto com isso. É o mal de todos os séculos. A palavra vale nada se não for libertação. 

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