No poema, cabem os meus, os seus,
as partituras rotas dos que se movem nas procissões,
as mãos indulgentes das primeiras horas,
a dolorosa metamorfose da aurora que grita instantes
e sua sangue
sem fé.
O cais parte, deixando os navios à deriva,
que as palavras desorientam os maus, os bons:
os jovens lacrimogênios e seus coquetéis de esperança,
a água vertida do peito nu da menina sem sexo,
o baixio abarrotado de homens e suas presas lancinantes.
Poesia
é o amor pela menina de olhos postos em tudo que passa,
que eu não passo
de um átimo;
é a atmosfera livre e renitente das telas amarelecidas de cansaço
e asco;
é o encontro noturno e o abraço de novo, embora antigo.
A palavra forma regaços, vãos que levam ao riacho seco:
existe ali um riacho, mesmo sem a condescendência da água.
Sous peu,
de tudo, ficará uma lembrança esvaecida, sem detalhes,
um vulto no espelho, uma voz sempre à mesma hora,
uma prosa peregrina, sem cisma
nem cor.
Muito bom e tocante.
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