Fiz parte, certa vez, de um grupo de
aspirantes a escritores chamado Rosa Literária. Esse grupo, dizem, tornou-se a
"última agremiação literária do século XX ". Ainda bem. Afinal de
contas, para que servem essas patotas literárias, senão para nominar o inominável,
para arrefecer tudo aquilo que os autores de verdade, com esforço e talento,
levaram anos para construir. Além do mais, se fizermos um levantamento
minucioso dos que habitam as reuniões de cera desses grêmios literários,
veremos que muitos estão ali por motivos outros, não por merecimento.
Caso não esteja enganado, para ser escritor e pertencer a uma academia
qualquer, é preciso escrever alguma coisa e, de preferência, publicá-la. E
estou sendo extremamente condescendente, uma vez que sugiro a publicação de
qualquer coisa, mesmo sabendo que essa "coisa" deve transparecer o
mínimo de arte.
Nunca publiquei nada de teor verdadeiramente
artístico. Somente alguns livretos comerciais de análise de obras indicadas a
estudantes que fariam uma prova e, em geral, esqueceriam o que e por que leram; algumas apostilas, enfim, nada de mais. O que escrevo não se
pode chamar de arte. São letras rejuntadas, apenas. Se me meto a poeta ou
cronista vez em quando, é por pura falta do que fazer ou por simples revolta. Ocorre
que sempre tive a necessidade narcísica de mostrar às pessoas o que escrevo,
mas sem lançar mão de quantias absurdas para apapelar meus textos. Eis que me
sugeriram um “blog”. Relutei, relutei, até que cedi aos apelos e, principalmente,
ao fato de ser gratuito. Assim nasceu o “Língua Afiada”, que está chegando ao
seu quarto ano de existência virtual.
Ocorre que, no início de minhas atividades
bloguistas, colegas de Letras chegaram a murmurar que um blog somente para
divulgação dos textos de um autor desconhecido não vingaria. Melhor que fosse
algo funcional, voltado para concursos, vestibulares ou pormenores gramaticais.
Ainda bem que não costumo dar ouvidos a balbucios. Deixei de lado os
desincentivos e passei a publicar na grande rede, sem a obrigação do diarismo,
textos variados, e vi que era bom. Algumas pessoas, em conta-gotas, foram se
interessando pelo blog, comentando os textos, elogiando ou execrando, mas,
sobretudo, lendo, o que é o mais importante.
Cheguei a ouvir que textos publicados
nesse tipo de suporte, um blog, perdem o valor literário, tornam-se diários
pessoais, impregnam-se de frivolidades. Se forem “rasas” demais, as publicações
sequer merecerão uma piscadela acadêmica; se forem eruditas e convincentes, o
grande público fará questão de passar pela outra calçada.
Na verdade, desliguei as desditas alheias
e acreditei que poderia manter um espaço no universo virtual para divulgar
exclusivamente o que escrevo, com total e irrestrita liberdade. Ademais, não
podemos negar que os tempos são outros, e as tecnologias, se utilizadas de
forma adequada, são instrumentos essenciais para a divulgação do trabalho artístico.
Machado de Assis, se houvesse tido acesso a tanta inovação e progresso,
certamente escreveria um blog, e isso não desmereceria sua obra.
Entanto, tenho consciência de que,
enquanto meus textos não se materializarem em celulose, não serei levado a
sério como escritor. Paciência.
Gostaria muito de ser convocado para
participar de uma dessas Academias de Letras, apenas para ter o sublime prazer
de recusar o convite. É que não me vejo prostrado entre bajuladores cheirando a
mofo e a chá. Vou criar minha própria academia, a ACLV – Academia Cearense de
Letras Virtuais. Quem sabe, dessa maneira, possa me tornar imortal pelo que
escrevo, não pelas abotoaduras que ostento.